terça-feira, junho 07, 2005



Atraídos pela cultura pop japonesa, jovens
aprendem o idioma para ler quadrinhos
e cultuam músicas de desenhos animados


Lena Castellón

Sugoi, kawaii, baka. Para a maioria dos adultos brasileiros, essas palavras são incompreensíveis. Mas se você tem filhos adolescentes, experimente perguntar para eles. Caso respondam legal,
fofinho e bobo, respectivamente, não tenha dúvida: seus herdeiros pertencem a um grupo cada vez maior, o dos fãs da cultura pop japonesa. Dependendo do grau de conhecimento, talvez sejam otakus, como são chamados os apaixonados por animes (desenhos animados) e mangás (quadrinhos). No Japão, a expressão é pejorativa e equivale a nerd. “Lá, o otaku é uma pessoa irritante. Aqui, virou sinônimo de fã”, explica a estudante Giovana Werneck, 16 anos, de Brasília. Dona de uma vasta coleção de mangás, Giovana usa a internet para se manter atualizada e aprende japonês. “É para facilitar a leitura de histórias que ainda não foram traduzidas”, diz.
Como ela, são muitos os jovens matriculados em cursos de japonês. Na Aliança Cultural Brasil-Japão, em São Paulo, o número de alunos não-descendentes dobrou de 2004 para cá. Escolas de desenho que ensinam o estilo japonês também recebem mais alunos. O número de inscritos na Área E, na capital paulista, passou de 90 para 150 neste ano. Desde março, o curso é oferecido num colégio como programa extracurricular. “As escolas querem se atualizar e oferecer atividades que chamam a atenção dos estudantes”, observa Fabrizio Yamai, diretor da Área E.
A mania pelas histórias em quadrinhos também faz a alegria das editoras. Há 12 anos no mercado, a JBC resolveu apostar no público de mangás no Brasil em 2000 e saltou do 157º lugar para o 15º no ranking das editoras. Seus trunfos são títulos poderosos como Samurai X (dois milhões de exemplares vendidos com roteiro ambientado no Japão medieval) e Sakura card captors (um milhão de revistas). Os textos, lidos de trás para a frente, foram traduzidos do original, e não de uma versão em inglês, o que despertou o respeito dos otakus. “Hoje, nas convenções de fãs, até me pedem autógrafos”, conta Júlio Moreno, diretor da JBC. “Ficam loucos quando digo que estive com um mangaká importante”, diz. Mangakás são os criadores das histórias. Alguns são megastars no Japão.
A música também exerce fascínio. Em julho, a terceira edição do Anime Friends, um dos mais movimentados eventos de cultura pop japonesa, trará para São Paulo quatro cantores famosos por interpretar temas de animes e tokusatsus (séries de tevê como Jaspion e Ultra seven, popular nos anos 70). A garotada acompanha a maioria das letras. Em 2003, na primeira edição do festival, Hironobu Kageyama, desconhecido para quem não é dessa praia, fez o público vibrar com músicas dos desenhos Os cavaleiros do zodíaco e Dragon Ball Z. Estará de volta este ano e poderá ser visto por um público estimado em 40 mil pessoas. Outra atração será a coreografia inspirada em personagens, o anime dance.
Os festivais também são movidos a concursos de cosplays (fantasias de personagens). “Muitos pais caracterizam os filhos. Ficam bonitinhos, mas não têm como competir com quem investe tempo e dinheiro nisso”, avalia a roteirista Petra Leão, 25 anos, de São Paulo. Em concursos anteriores, ela já ganhou um Play Station e um Game Boy com fantasias como a de Maria Antonieta, personagem de um mangá que se passa na Revolução Francesa. Nessa viagem literária entre Japão e Brasil, há espaço até para um pulinho na Europa.


Sou só eu ou estou achando a matéria meio otaku?

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